sábado, 15 de agosto de 2009

Pastoral A fé que caminha por becos e calçadas

Ângela Silva
angela_cpsilv@hotmail.com


Um compromisso semanal marca as noites de quarta-feira daqueles que aderiram à Pastoral de Rua em Piracicaba. As praças Bom Jesus, da Catedral, da Igreja Matriz de Vila Rezende e Takaki são os locais de encontro entre missionários e voluntários, que se unem para levar conforto a pessoas em situação de indigência.
Um dos projetos da Associação Aliança de Misericórdia, a Evangelização de Rua acontece em Piracicaba há quatro anos. Promove a renovação da fé e o apoio psicológico a moradores de rua. Além disso, tem o propósito de acolher àqueles que se sintam preparados para iniciar a reinserção social.
A missionária Regiane Maria, 26, conta que ouvir a história dessas pessoas é essencial para entender suas necessidades. “Com a minha presença, procuro levar a eles a palavra de Deus, sua mensagem”, explica.
Dona Terê, 60, voluntária da Pastoral, destaca que é difícil vencer o desejo que os próprios moradores têm de permanecerem na rua. “As entidades ajudam com roupas e alimentos. Eles não sentem fome e podem manter os vícios, por isso a maioria não quer sair”, afirma.
Identificando-se por José, o senhor de 55 anos que veste roupas curiosamente em boas condições e descansa sob um papelão, elogia o trabalho dos missionários: “Eles nos dão uma atenção que quase ninguém dá. Mas o mundo é isso. Sempre tem quem ajude e quem ignore”, diz.
O voluntário Mário César, 44, acompanha a Pastoral há quatro meses e já contribuiu para iniciar a reinserção social de dois garotos. Ex-dependente químico, mora na Casa Aliança de Misericórdia há pouco mais de um ano. Hoje em um processo de recuperação diário, ele leva sua história aos moradores de rua na tentativa de sensibilizá-los.“Deus faz mudanças e as portas somos nós que abrimos ou fechamos”, reflete.
Luiz Carlos da Silva, o Fininho, 26, também é voluntário na Pastoral e usa o fato de já ter vivido nas ruas para se aproximar dos moradores. “Sei dos sentimentos deles porque vivi”. Com esse trabalho, conseguiu recuperar uma pessoa, a quem ele chama de “filho na fé”.
A dificuldade de entender a mente dos moradores de rua pode ser ilustrada pela fala de Willian Guedes da Silva, 25, que recebeu de Regiane a proposta de ajudá-lo na busca por sua mãe: “Prefiro não saber se ela está viva ou morta, ou descobrir por minha conta”. O rapaz, que saiu de casa com 16 anos, se irrita quando perguntam se prefere continuar nesta situação a reencontrar a família. “Que situação?! Eu moro aqui.” – e aponta para os colegas, numa demonstração de que sua realidade lhe basta.

Nenhum comentário:

Postar um comentário