sábado, 15 de agosto de 2009

Perfil Ex-punk dos protestos opta pelo sacerdócio

Missionário há quatro anos e estudante de Teologia,
Douglas Gonçalves Valadares expõe sua história de vida

Camila Gusmão
cah_foca@yahoo.com.br


Com um terço na mão, jeito calmo e a fala mansa Douglas Gonçalves Valadares, 25, escolhe o local da conversa que vai resultar neste perfil. Atrás da capela, de onde se vê uma bela gruta de pedras, uma delas com a inscrição:“Jesus é amor”.
Filho de Edna Aparecida Gonçalves Valadares, dona de casa, e de Nelson Horta Valadares, policial militar que chegou a trabalhar em dois empregos e a fazer bicos para não deixar faltar nada em casa,Douglas nasceu em São Paulo. Apesar do pai não seguir os ritos católicos com rigor, orgulha-se do mesmo, “Meu pai sempre ensinava a gente a viver do que se conquista”, afirma. mãe e a irmã Érica Gonçalves Valadares sempre foram ,religiosas.
Entre os anos de 93 e 94, Douglas teve as primeiras experiências na igreja, mas nenhuma lhe chamou atenção, pois pareciam abstratas demais. “Pouco imanente, muito complicado”, diz.
Na adolescência, Douglas começou a fazer um curso técnico na Mooca, centro de São Paulo. Fase nova, amigos novos, começou a beber e, deixou totalmente a igreja.
Desde essa época, tinha sede de mudança, queria um país com condições mais igualitárias, mas beber e fazer protesto foram as formas que encontrou para manifestar essa ideologia.
“Olha essa juventude, bebendo, sentada na porta do bar. É essa mudança que eles querem?”. Essa frase, ouvida de uma senhora, deu novo rumo à vida de Douglas. Ele começou a trabalhar numa banca de jornal, terminou o colegial e voltou a pensar no futuro.
A partir de uma missão realizada no bairro em que morava, em 2003, Douglas se reaproximou da igreja, mesmo que sob a pressão da mãe e nas pregações que ouviu, encontrou a expectativa de vida jamais encontrada antes.
Depois de dois anos participando de retiros e eventos, Douglas começou a conhecer o
aspecto social da comunidade. “Ir a lugares de risco fazer promoção humana, dar formação para jovens”, conta.
Além de participar da comunidade, Douglas trabalhava na área contábil de uma empresa de bebida. Quando estava prestes a ser promovido, seu orientador o chamou para fazer um ano de direção espiritual na comunidade. Neste momento, teve de escolher entre realizar o sonho do pai de trabalhar, fazer faculdade e lhe dar netos, e a vida entregue a Deus. “Primeiro, fiquei sem reação, depois chorei muito, cheguei em casa e fui dormir. No outro dia, nem consegui trabalhar direito”, relata.
Tomou a decisão. Pediu a conta, conseguiu um “dinheirinho” para não deixar a família desamparada e foi para casa. Ao contar para o pai não teve apoio . “Não criei filho para virar padre, largar tudo e fazer uma coisa duvidosa”, retrucou Nelson, que chegou entrar em depressão.
O tempo passou e em 13 de fevereiro de 2005, foi realizada a missa de entrada de Douglas para a Casa Aliança de Misericórdia. Contou com a presença da irmã, do pai, que já perdoara o filho, apesar de ainda torcer o nariz para a escolha, e de um amigo de infância. O restante da família não apoiava sua escolha.
Depois de dois anos na casa de formação de São Paulo, veio para a casa Poço de Jacó, em Piracicaba. Apesar das dificuldades, garante que não pretende desistir:. “A amizade e a partilha de vida com os irmãos é o que segura a gente aqui, pois realmente é difícil”, explica Douglas.
Como missionário tem 15 dias do ano para ver a família, e não desperdiça nenhum. O pai ainda pergunta se está decidido em relação ao celibato, já a mãe tem o coração preenchido pela missão do filho. Douglas reproduz as palavras de sua mãe sobre sua escolha: “Não tive filho para mim, mas para o mundo, não quero uma pessoa frustrada”.

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